Por quê?

A forma mais comum de se ter acesso a um livro, espírita ou não, é comprá-lo em um ponto comercial. Você leva o livro pra casa, lê com carinho, guarda com cuidado, e empresta... ops... normalmente não empresta já que o livro é seu, custou caro, e sente um ciúme doído que só. É natural! Se tivéssemos um verdadeiro desprendimento das coisas materiais talvez nem estivéssemos por aqui.
A posse coletiva é uma forma intermediária entre a posse individual e a não posse. Ao reconhecer que o livro não é só seu a pessoa se sente mais a vontade em passar para uma outra pessoa. Ao mesmo tempo sabe que a outra pessoa também vai cuidar do livro como se fosse seu. Aliás, é seu e de todos! É o sentimento da preservação do bem comum.

Outra forma bastante comum de acesso aos livros espíritas são as consultas nas bibliotecas. Algumas funcionam bem, mas a maioria infelizmente funciona mal. Normalmente os horários de acesso à biblioteca não são muito flexíveis. Nem sempre temos atendentes atenciosos. E o que é mais problemático é que os livros mais novos raramente são encontrados.

Este último ponto dificilmente uma biblioteca atinge e para resolver isso precisamos necessariamente comprá-los. Poderíamos pensar numa forma de abastecer as prateleiras da biblioteca, mas ainda assim o processo de se fazer isso deve ser muito burocrático. Pode faltar espaço, pode faltar boa vontade, pode faltar um monte de coisa.

Nas duas últimas décadas presenciamos o sucesso dos clubes do livro espírita. Eles estão espalhados por todos os estados brasileiros. Normalmente, vários sócios, que podem chegar a milhares, recebem todo mês o exemplar de um livro escolhido por uma equipe de voluntários espíritas. Em geral são livros de baixo custo, de conteúdo básico, e que pretende agradar gregos e troianos.

Livros com projetos gráficos mais elaborados, que necessitam de tradutores ou de revisores, com muito conteúdo, e pouco atrativo comercial, dificilmente são colocados nos clubes. E entre estes encontramos livros muito bons e que muitos leitores adorariam ler. Embora os livros de clube cheguem com descontos fantásticos tem um outro aspecto que não podemos esconder: há um gasto enorme de recursos materiais.

Se os livros fossem compartilhados entre as pessoas, com certeza, não precisaríamos de tantos exemplares. E este aspecto alimenta o sentimento de ter um livro, um livro só pra si. Há, por outro lado, alguns clubes que permitem que o sócio escolha o livro, mas, nesse caso, os descontos já não são tão vantajosos e são diferenciados. Isto é, o livro comercial vai continuar sendo o mais barato e, por uma questão financeira, continuará sendo o escolhido pelos leitores.

Há ainda algumas boas novidades no compartilhamento de livros. É o caso das feiras da barganha do livro e o estímulo a doação dos livros. No primeiro caso continuamos com o problema de não termos acesso a livros novos embora a experiência da troca é fascinante e vai de encontro com os princípios da proposta desta nova modalidade. No segundo caso a idéia é muito solidária, mas carece de um sentimento de vínculo entre as pessoas.

Nesta nova modalidade as pessoas ficam unidas pelo comprometimento com os livros e mesmo com os participantes. Será preciso cuidar de um livro que não é só seu. Será preciso ficar atento para que o outro também tenha acesso ao livro que também é dele. Há ainda o aspecto democrático e justo na escolha dos livros: as pessoas escolhem os livros na mesma medida que contribuem para comprá-los.

Mas também, não impede de qualquer pessoa participar já que não necessariamente a pessoa precisa contribuir para a compra dos livros. Assim, a adesão se torna muito fácil e a desistência normalmente não ocorrerá. Portanto, o grupo cresce e o comprometimento aumenta, uma vez que há mais pessoas para compartilhar os livros.